Fã de Harry Potter, DJ JK fez da música um jeito de ver o mundo 2m2g3n

O DJ JK traz no nome artístico duas de suas inspirações. A música e J. K. Rowling, a mente por trás da saga de livros Harry Potter. Foi movido pela paixões dele que João Pedro Ruiz, de 23 anos, o JK, que é deficiente visual, decidiu enfrentar o preconceito para se destacar na música eletrônica no interior de Mato Grosso do Sul.

João conta que é fascinado por música, desde pequeno. Com apenas 10 anos e o apoio da família, ele montou um banda de rock infantil, em Porto Murtinho. Mas foi no eletrônico que ele se encontrou.

“Logo que a banda acabou, eu ganhei minha primeira mesa de DJ. Foi o que me mais me incentivou a continuar, eu ei a estudar cada vez mais até chegar nesse momento da minha carreira. Eu acho que é o melhor momento dela, na verdade. Estou tendo várias oportunidades para mostrar cada vez mais o meu trabalho, através da música”, comemora.

A cegueira nunca impediu João de correr atrás do sonho de ser DJ. E, por vezes, a deficiência visual dele até a despercebida por quem não conhece o jovem músico.

“Acontecem algumas situações engraçadas com quem não sabe que eu sou uma pessoa com deficiência visual como, por exemplo, acharem que eu estou evitando elas, ou o contratante me cumprimentar e às vezes eu ar reto. São situações mais cotidianas mesmo”, conta.

Mas nem tudo são flores, João se recorda de quando foi discriminado por um produtor musical de Porto Murtinho, quando ele ainda estava no início de carreira.

“No dia que meu equipamento chegou, ele foi até minha casa e olhou para o equipamento, olhou pra mim e disse que eu nunca ia conseguir tocar, porque aquele equipamento era só para pessoas profissionais”, conta.

O comentário carregado de preconceito pegou o então aspirante a DJ de surpresa. Mas João decidiu ressignificar a própria revolta.

“Foi uma cena bem chocante, mas que me incentivou a quebrar essa barreira que as pessoas têm de achar que a pessoa com deficiência está limitada a uma pequena caixinha onde ela não pode fazer nada, ou só pode fazer aquilo que a sociedade habitua ela a fazer. Aquela cena de preconceito me estimulou a continuar estudando e trabalhando na minha carreira, para chegar onde eu cheguei hoje, e ir cada vez mais longe. Isso por conta da minha perseverança, pelos meus amigos que também confiam muito no meu trabalho, na minha família”, comenta.

Apesar da pouca idade, o DJ JK já ou por várias cidades no interior do estado. Além de Porto Murtinho ele já apresentou seus sets de eletrônico e funk em casas noturnas de Jardim, Nioaque, Bela Vista, Caracol e também na capital.

“Todas elas me trouxeram uma vibe muito incrível, uma energia sensacional, quero poder voltar sempre”, comenta.

E o DJ JK tem planos ambiciosos para o futuro. Ele sonha em tocar na Expogrande e em grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza e Tomorrowland. Por falar em Expogrande, na edição de 2018 da festa e graças a ajuda de um amigo, João pôde conhecer o DJ Alok, que é uma de suas maiores fontes de inspiração.

João Pedro acredita que é o único DJ cego de Mato Grosso do Sul, mas ele coleciona dezenas de amigos que também se dedicam a outras vertentes da música. Profissionais que assim como João, se destacam pelo talento e dedicação, independente da deficiência.

“Tenho uma amiga que é psicóloga, dois amigos que são advogados e também são deficientes visuais e são incríveis, são pessoas maravilhosas, e cada um seguiu seu caminho através do seu próprio instinto. Eu segui o meu caminho que é relacionado à música, desde pequeno, eu quis trabalhar com música, e hoje estou realizando esse sonho aos poucos, mas realizando, correndo atrás. Eu fico muito feliz de poder realizar aos poucos esse sonho e conseguir alcançar os meus objetivos”, diz João