Da linha ao propósito: aplicativo une costureiras e fortalece mulheres em MS 1p5916
Na pandemia, uma costureira de Campo Grande criou uma startup que virou ponte entre profissionais da costura e clientes em todo estado 4r5f4g
Na ponta da agulha, Ivani sempre viu mais do que tecido: via caminhos. De uma ideia coletiva, nasceu a vontade de mudar realidades, unir costureiras e valorizar talentos escondidos nos bairros de Campo Grande. Foi dessa visão que surgiu a República das Arteiras, uma plataforma criada para conectar profissionais da costura a clientes.

Antes disso, Ivani estava prestes a abrir um espaço de coworking voltado às costureiras quando, em 2020, foi surpreendida pela pandemia. O projeto quase chegou ao fim, até que ela recebeu a notícia de que uma proposta enviada anteriormente havia sido selecionada para receber fomento. A oportunidade reacendeu o sonho: transformar a ideia em um aplicativo prático e funcional.
“Os desenvolvedores fizeram o aplicativo a partir das nossas ideias e demandas. De lá para cá, a gente vem desenvolvendo essa ideia. Já encerramos a fase de teste e demonstrou que é viável, funciona, porque conecta. Esse é o primeiro objetivo de conectar”, disse Ivani Marques da Costa Grance, uma das idealizadoras da startup em Mato Grosso do Sul.
A plataforma funciona como um marketplace especializado: o usuário a, escolhe uma das 11 especialidades cadastradas e é direcionado ao WhatsApp da costureira correspondente. A negociação é feita diretamente entre cliente e profissional, preservando a autonomia de cada empreendedora.
Atualmente, mais de 150 mulheres integram a rede, espalhadas por cidades como Campo Grande, Sidrolândia e Miranda. O alcance nacional já começou: há costureiras cadastradas em São Paulo e no Rio de Janeiro. E os planos vão além.
“Nossa ideia é chegar na região fronteiriça. Como o nosso estado faz fronteira com o Paraguai e a Bolívia, queremos alcançar as costureiras que trabalham nesses países. Vamos aproveitar, também, a chegada da Rota Bioceânica para ar mais lugares. Mas claro, primeiro precisamos consolidar nossa marca aqui no Estado”, afirmou Ivani.

Para conseguir alcançar mais pessoas e gerir a plataforma com mais qualidade, foram necessárias horas de estudo e capacitação para entender como lidar com o cliente. Por isso, o principal caminho escolhido pelas empreendedoras foi o Sebrae, que auxilia as profissionais no gerenciamento do negócio, além de ajudá-las a conectá-las a outros parceiros, através dos muitos eventos promovidos pela entidade.
Para ter o à plataforma, clique aqui.
Renda, recomeço e propósito v2i4o
Entre as costureiras da República das Arteiras está Roseli Budke, que encontrou na costura uma forma de reconstruir a vida após perder um filho. Incentivada por uma amiga a encontrar um propósito, conheceu a máquina de costura e não parou mais. Fez faculdade de moda, abriu seu próprio ateliê e buscou conhecimento sobre empreendedorismo.
Depois de morar em Cuiabá e Brasília, Campo Grande se tornou o seu porto seguro. Há dois anos, a campo-grandense de coração construiu na garagem de casa, o ateliê de costura que leva o seu nome. Porém, para saber lidar com o novo negócio, precisou buscar ajuda profissional para entender sobre o que é ser empreendedora e seus desafios.

“Eu fiz o curso do Sebrae Delas e teve o primeiro evento, que foi expor o meu trabalho numa feira em um shopping. Eu não tinha material para oferecer e não sabia quantas peças produzir. Eu fiz um levantamento da população naquele raio do shopping para saber o estilo de vida. Tudo isso eu aprendi curso do Sebrae. Em 10 dias antes do evento eu produzi 100 peças para o mostruário com base nas informações que eu tinha. E assim consegui muitos clientes”, frisou.
Através de outro evento produzido pelo Sebrae, conheceu a startup República das Arteiras. Com isso, mais clientes começaram a surgir e o negócio alavancar.
“Sim, sou costureira. Por trás desse ofício tem uma formação muito grande. Não foi fácil, mas foi a profissão que salvou minha vida. É importante a gente ter algo para fazer, para ocupar a mente e soltar os monstros que ficam em volta da gente”, contou.

Impacto na economia local 1g3k4s
É através de um propósito de vida que muitas mulheres iniciam no empreendedorismo, abrindo uma pequena empresa através daquilo que ama fazer. Para Maristela França, coordenadora estadual do segmento no Sebrae/MS, a atuação impacta na qualidade de vida, na segurança, na educação e na saúde desse público.
“A maioria das mulheres empreende por um propósito de vida, por uma realização. E quando entram no mundo dos negócios, todas nós vamos muito além do ganho financeiro. O empreendedorismo feminino é um movimento que veio para ficar. E por que fortalecer esse movimento? Porque ele contribui para que todas as empresas empreendedoras possam realmente atuar, gerar negócios, gerar renda e melhorar a sua própria qualidade de vida”, pontuou.
Quanto à costura, a analista técnica do Sebrae/MS, Penélope Herradon, ressalta que, em geral, esse é um ofício ado de família, mas que os tempos atuais mostram cenários diferentes.
“Hoje é muito difícil uma adolescente saber fazer a base de uma calça, fazer um botão, porque esse hábito não foi ado à frente, e com isso também diminui a mão de obra dessa profissional. Mas em paralelo a isso, nós temos um movimento crescente também de consumo de moda consciente e sustentável, que traz novas possibilidades para quem atua na área. Então a moda autoral tem se destacado positivamente no estado do Mato Grosso do Sul”, disse.

Apesar disso, a instituição tem notado uma retração no mercado nesse segmento. “É importante destacar que moda autoral é diferente de costureira sobre medida. Moda autoral tem todo o conceito. Por exemplo, 400 novas empresas foram abertas em MS, um número 6% menor do que em 2023. Apesar desse movimento, percebemos que existe um mercado amplo nesse setor, principalmente na moda autoral, algo que vem se destacando no mercado para ir contra essa ideia do fast fashion [roupa rápida em tradução livre. A qualidade da roupa hoje em dia não é a mesma, mas se você conversa com uma costureira, ela vai te falar sobre a qualidade de tecido, por exemplo”, afirmou.
Em Mato Grosso do Sul, 3.139 empresas com atividade de confecção sob medida, desde roupas íntimas, até costura criativa, conserto e design de moda estão ativas. Desse total, 3.099 são pequenos negócios que contemplam MEIs (Microempreendedores individuais) e empresas de pequeno porte.
Somente em Campo Grande, são 401 mulheres empreendedoras no segmento da costura. Desse número, a média de idade das profissionais fica em 51 anos, conforme dados da Receita Federal.
